quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

CRIANÇAS AGRESSIVAS

 
O que está na origem da agressividade?
Esta questão lança algumas controvérsias nos dias que correm. Alguns Psicólogos concordam com o facto de a sua origem ser hereditária, outros defendem a ideia de que é uma influência do meio em que o individuo está inserido. Ambas são importantes para o desenvolvimento da agressividade, quer o fator genético, quer o meio envolvente.
Nos primeiros anos de vida, a criança por não conseguir expressar verbalmente as suas frustrações e contrariedades, muitas vezes recorre a alguma agressividade para se expressar e impor, com os gritos, com o choro ou a agredir o outro fisicamente. É a forma que a criança encontra para satisfazer as suas necessidades.
Essa agressividade vai-se alterando com o tempo e a criança percebe que existem outras formas de chegar ao seu objetivo, no entanto, se o ambiente familiar e social for agressivo, e se as condutas aplicadas em interação com a criança são num contexto de agressividade e, por vezes, de alguma violência, a criança tem tendência a persistir no tempo com o comportamento agressivo, pois os modelos que tem como referencia, são detentores de agressividade.
O meio envolvente pode provocar no individuo uma maior apetência para a agressividade quando por exemplo, os pais não colocam regras/limites aos seus filhos, regras essas que ambos devem concordar em aplicar na altura certa. O que se verifica muitas vezes é a discordância entre os pais em aplicar determinada regra e de, por vezes, se contradizerem mutuamente perante os filhos. Este comportamento parental faz com que o próprio filho perceba com qual dos pais pode ser mais persistente, ou como se diz na gíria: “com qual posso esticar mais a corda” e verificar até que ponto os pais cedem em seu benefício. Quando se dá uma ausência de regras e limites a criança fica “à deriva”, sem a devida noção do que está certo ou errado e começa a revelar comportamentos e atitudes mais agressivos.
Quando existe violência doméstica onde a agressividade acaba por ser uma forma “normal” de resolver determinadas situações, aqui a criança aprende que deve ser violenta e agressiva com frequência como forma de resolver as suas questões quotidianas. O facto de no seu agregado familiar existirem gritos constantes e pouco espaço para o diálogo, leva a que estas crianças tenham dificuldade em saber dialogar e em lidar com o outro sem violência e agressividade.
A criança pode-se tornar igualmente mais agressiva quando, por parte do sistema educativo, existem Professores muito autoritários ou existe um ambiente de muita rivalidade e competição.
Qualquer situação de mudança, separação, doença ou discussão também são fatores que levam a criança a ficar receosa e ela pode reagir sendo agressiva, em sua defesa e para sinalizar que necessita de atenção, explicações, carinho e até dos limites.
Após os primeiros 2/3 anos de vida aparecem outros fatores que levam à agressividade, como a própria personalidade da criança. Crianças mais agressivas exigem uma orientação mais profunda para se enquadrarem e conseguirem direcionar essa energia para algo positivo.
Educar implica dedicação, tempo, disponibilidade, afeto e limites. Os pais não devem ser demasiado autoritários, nem demasiado passivos, ou seja, os filhos necessitam compreender que existem regras que são para cumprir mas também é necessário que exista alguma flexibilidade por parte de quem educa.
Na maioria das vezes, o que se verifica é a falta de dedicação e disponibilidade por parte das figuras parentais perante os filhos e para colmatar essa falha parental, os pais tornam-se demasiado passivos, permitindo muitas situações, porque dá trabalho contrariar, porque o ambiente familiar vai ficar alterado, porque é mais fácil dizer que sim. A criança acaba por crescer num ambiente em que tudo é facilitado e à mínima contrariedade que a criança encontre no seu percurso, ela não vai saber lidar com a situação e vai desorganizar-se e recorrer com facilidade à agressividade. Por exemplo, uma criança habituada a receber um presente todas as semanas como recompensa de comer a refeição sozinha, vai interiorizar a ideia de que receber um presente semanalmente não é um agrado mas sim uma obrigação, e não compreende que comer sozinha durante a refeição é sua função e que não tem de receber presentes por isso.  Quando a criança não recebe o presente numa determinada semana, vai reagir com agressividade, não vai saber lidar com a frustração que está a sentir pela ausência do objeto.
Nos pais demasiado autoritários, os filhos têm tendência a ser muito submissos, mas por vezes, o respeito que deviam ter pelas suas figuras parentais passa a ser o medo das mesmas, o que não é saudável numa relação familiar. A relação fica distante, fria e pouco segura. Com o passar do tempo a criança pode revoltar-se e a sua agressividade passa a ser mais expressiva.
É importante que os pais percebam que são pais, não são os melhores amigos dos filhos, assim como é importante que os filhos percebam que devem lidar com os seus pais de forma diferente da que lidam com os seus amigos, porque, efetivamente os pais e os filhos não estão ao mesmo nível, são os pais que têm o dever de cuidar dos filhos e não o inverso, no entanto, a existência de uma comunicação aberta é fundamental para uma boa relação entre pais e filhos. Como refere Gillemo Ballenato, “ …hoje em dia os pais são demasiado permissivos, aos filhos tudo é permitido, nada lhes custa a conquistar e as crianças estão a crescer de forma inadaptada”; “Dos vários estilos educativos existentes o estilo democrático e dialogante é o que funciona melhor”; “Os filhos não estão ao nível dos pais, mas existe uma comunicação fluida entre as partes”.
Faltam regras na educação das crianças e a má educação de muitas delas provem desta ausência de normas e de modelos orientadores das mesmas.
Uma criança agressiva pode ter múltiplos fatores que a influenciam (internos e externos), para uma criança com falta de educação os fatores que a influenciam são apenas externos, logo, cabe à família e à escola e ao meio que a envolve a responsabilidade de a educar de forma saudável, para que esta possa crescer com segurança e afeto.
 

 

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