O que está na origem da agressividade?
Esta questão lança algumas controvérsias nos dias que correm. Alguns Psicólogos
concordam com o facto de a sua origem ser hereditária, outros defendem a ideia
de que é uma influência do meio em que o individuo está inserido. Ambas são
importantes para o desenvolvimento da agressividade, quer o fator genético,
quer o meio envolvente.
Nos primeiros anos de vida, a criança
por não conseguir expressar verbalmente as suas frustrações e contrariedades,
muitas vezes recorre a alguma agressividade para se expressar e impor, com os
gritos, com o choro ou a agredir o outro fisicamente. É a forma que a criança
encontra para satisfazer as suas necessidades.
Essa agressividade vai-se alterando com
o tempo e a criança percebe que existem outras formas de chegar ao seu
objetivo, no entanto, se o ambiente familiar e social for agressivo, e se as
condutas aplicadas em interação com a criança são num contexto de agressividade
e, por vezes, de alguma violência, a criança tem tendência a persistir no tempo
com o comportamento agressivo, pois os modelos que tem como referencia, são
detentores de agressividade.
O meio envolvente pode provocar no
individuo uma maior apetência para a agressividade quando por exemplo, os pais
não colocam regras/limites aos seus filhos, regras essas que ambos devem
concordar em aplicar na altura certa. O que se verifica muitas vezes é a
discordância entre os pais em aplicar determinada regra e de, por vezes, se
contradizerem mutuamente perante os filhos. Este comportamento parental faz com
que o próprio filho perceba com qual dos pais pode ser mais persistente, ou
como se diz na gíria: “com qual posso esticar mais a corda” e verificar até que
ponto os pais cedem em seu benefício. Quando se dá uma ausência de regras e
limites a criança fica “à deriva”, sem a devida noção do que está certo ou
errado e começa a revelar comportamentos e atitudes mais agressivos.
Quando existe violência doméstica onde a
agressividade acaba por ser uma forma “normal” de resolver determinadas
situações, aqui a criança aprende que deve ser violenta e agressiva com
frequência como forma de resolver as suas questões quotidianas. O facto de no
seu agregado familiar existirem gritos constantes e pouco espaço para o
diálogo, leva a que estas crianças tenham dificuldade em saber dialogar e em
lidar com o outro sem violência e agressividade.
A criança pode-se tornar igualmente mais
agressiva quando, por parte do sistema educativo, existem Professores muito
autoritários ou existe um ambiente de muita rivalidade e competição.
Qualquer situação de mudança, separação,
doença ou discussão também são fatores que levam a criança a ficar receosa e
ela pode reagir sendo agressiva, em sua defesa e para sinalizar que necessita
de atenção, explicações, carinho e até dos limites.
Após os primeiros 2/3 anos de
vida aparecem outros fatores que levam à agressividade, como a própria
personalidade da criança. Crianças mais agressivas exigem uma orientação mais
profunda para se enquadrarem e conseguirem direcionar essa energia para algo
positivo.
Educar implica dedicação, tempo,
disponibilidade, afeto e limites. Os pais não devem ser demasiado autoritários,
nem demasiado passivos, ou seja, os filhos necessitam compreender que existem
regras que são para cumprir mas também é necessário que exista alguma
flexibilidade por parte de quem educa.
Na maioria das vezes, o que se verifica
é a falta de dedicação e disponibilidade por parte das figuras parentais
perante os filhos e para colmatar essa falha parental, os pais tornam-se
demasiado passivos, permitindo muitas situações, porque dá trabalho contrariar,
porque o ambiente familiar vai ficar alterado, porque é mais fácil dizer que
sim. A criança acaba por crescer num ambiente em que tudo é facilitado e à
mínima contrariedade que a criança encontre no seu percurso, ela não vai saber
lidar com a situação e vai desorganizar-se e recorrer com facilidade à
agressividade. Por exemplo, uma criança habituada a receber um presente todas
as semanas como recompensa de comer a refeição sozinha, vai interiorizar a
ideia de que receber um presente semanalmente não é um agrado mas sim uma obrigação,
e não compreende que comer sozinha durante a refeição é sua função e que não
tem de receber presentes por isso. Quando a criança não recebe o presente
numa determinada semana, vai reagir com agressividade, não vai saber lidar com
a frustração que está a sentir pela ausência do objeto.
Nos pais demasiado autoritários, os
filhos têm tendência a ser muito submissos, mas por vezes, o respeito que
deviam ter pelas suas figuras parentais passa a ser o medo das mesmas, o que
não é saudável numa relação familiar. A relação fica distante, fria e pouco
segura. Com o passar do tempo a criança pode revoltar-se e a sua agressividade
passa a ser mais expressiva.
É importante que os pais percebam que
são pais, não são os melhores amigos dos filhos, assim como é importante que os
filhos percebam que devem lidar com os seus pais de forma diferente da que
lidam com os seus amigos, porque, efetivamente os pais e os filhos não estão ao
mesmo nível, são os pais que têm o dever de cuidar dos filhos e não o inverso,
no entanto, a existência de uma comunicação aberta é fundamental para uma boa
relação entre pais e filhos. Como refere Gillemo Ballenato, “ …hoje em dia os
pais são demasiado permissivos, aos filhos tudo é permitido, nada lhes custa a
conquistar e as crianças estão a crescer de forma inadaptada”; “Dos vários
estilos educativos existentes o estilo democrático e dialogante é o que
funciona melhor”; “Os filhos não estão ao nível dos pais, mas existe uma
comunicação fluida entre as partes”.
Faltam regras na educação das crianças e
a má educação de muitas delas provem desta ausência de normas e de modelos
orientadores das mesmas.
Uma criança agressiva pode ter múltiplos
fatores que a influenciam (internos e externos), para uma criança com falta de
educação os fatores que a influenciam são apenas externos, logo, cabe à família
e à escola e ao meio que a envolve a responsabilidade de a educar de forma
saudável, para que esta possa crescer com segurança e afeto.